05 JAN 2022
Fundação AEP
O ESTUDO DA PERFORMANCE COMPETITIVA E DE INOVAÇÃO EMPRESARIAL é o segundo estudo desenvolvido no âmbito do Projeto Desafio 2030. Este Estudo procura caracterizar o tecido empresarial nacional para, em conjunto com o Estudo das boas práticas internacionais apresentado anteriormente, proporcionar uma visão alargada do ecossistema de inovação.
O Estudo da performance competitiva e de inovação empresarial oferece uma leitura sobre o tecido empresarial português, com foco na indústria transformadora e nos serviços, e uma análise da performance competitiva e de inovação das empresas portuguesas face ao contexto internacional.
Nesta crise da Covid-19, no âmbito da qual a ciência e a inovação reforçaram a sua importância na sociedade – este Estudo procura também apontar caminhos para que Portugal possa desenvolver um tecido empresarial mais produtivo e competitivo, sustentado num ecossistema robusto de inovação e alicerçado na colaboração entre empresas e entidades do SCTN.
No Estudo são, também, apresentados exemplos de boas práticas de política pública para o avanço industrial em países de referência, a saber: Irlanda, Bélgica e Alemanha.
RECOMENDAÇÕES - RESUMO
AUMENTAR O NÍVEL DE QUALIFICAÇÃO NA INDÚSTRIA
Inserção de quadros mais qualificados na indústria
1.Criar benefícios à contratação de recursos altamente qualificados pelas PME (exemplo: isenção da componente da empresa da TSU para doutorados durante os primeiros 24 meses) e manter a aposta contínua na transição de bolsas de investigação para contratos de trabalho, aumentando os níveis de qualificação no tecido industrial português para valores mais próximos dos pares europeus. Adicionalmente, implementar benefícios fiscais para remuneração variável e simplificar a obtenção de vistos para atração de talentos -medidas adotadas por países com maiores níveis de desenvolvimento que, desta forma, estimulam o emprego científico na indústria para além do setor académico.
GERAR VALOR ECONÓMICO NAS REDES DE COOPERAÇÃO
Definição de nova geração de políticas públicas para a melhoria da performance industrial
2.Desenvolver uma nova geração de políticas públicas focada na valorização económica da inovação, permitindo às instituições de I&D e às empresas aprofundarem a colaboração entre si e desenvolverem atividades de I&D destinadas à criação de novos produtos/ serviços. Estas políticas devem ser acompanhadas de mecanismos de monitorização dos resultados alcançados, com maior transparência relativamente à aplicação de fundos para a I&D e do trabalho desenvolvido na rede do SCTN. Por exemplo, Portugal poderá desenvolver um portal de open data -referenciado no Estudo de Boas Práticas Internacionais-funcionando como ligação entre as PME e as entidades do SCTN.
DINAMIZAR O TECIDO EMPRESARIAL FRAGMENTADO
Aprofundamento da cooperação a nível das redes de I&D e de negócio
3.Alavancar a rede da diáspora portuguesa de modo a aumentar o número de empresários e investidores em contacto com a comunidade. Esta aposta permitirá criar novas redes de negócio, potenciando a abertura a novos mercados reforçando as exportações nacionais e a absorção de novas práticas e processos de negócio que permitam incentivar o desenvolvimento de I&Di. Adicionalmente, e no plano interno deverão ser potenciados os papeis dos clusters, centros tecnológicos e das associações empresariais entre outros, para ajustar a investigação produzida no SCTN às necessidades das empresas.
ADOTAR TECNOLOGIAS INOVADORAS NA INDÚSTRIA
Aceleração da inovação de produto e processo na indústria
4.Disponibilizar equipas de consultoria para apoiar as PME na construção de roadmaps de transformação digital e desenvolver centros tecnológicos de experimentação e capacitação que forneçam diretrizes e apoio para toda a jornada da indústria 4.0. Os centros tecnológicos deverão participar na requalificação das gerações anteriores, garantindo o aumento das competências em tecnologias de ponta por parte dos colaboradores da indústria. Adicionalmente, criar novos mecanismos de financiamento que permitam às empresas mais bem-sucedidas na sua jornada de transformação capitalizarem-se proactivamente caso necessitem de investir em atividades de I&Di.
MELHORAR A COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL DAS PME
Promoção de novos veículos de financiamento para as atividades de I&D
5.Promover fundos públicos para atividades colaborativas -alinhado com o círculo virtuoso para a colaboração do Estudo de Boas Práticas Internacionais-e fundos de coinvestimento, como o fundo 200M gerido pelo BPF. É também relevante fomentar a disponibilização de programas de vouchers de financiamento, como o Vale Indústria 4.0ou o Vale Inovação à indústria, para que Portugal se aproxime de valores de I&D da média da UE *Portugal investe 1,5 vezes menos que a UE em I&D (% PIB per capita) –dados do WorldBank, referentes a 2018. Estas medidas permitem aumentar o acesso das PME a investimento e alavancar o seu desenvolvimento para níveis de competitividade mais próximos dos internacionais.
IMPACTO DA BUROCRACIA NA PERFORMANCE NACIONAL
Avaliação do impacto da burocracia na performance da indústria nacional
6.Portugal apresenta potencial de melhoria no desempenho da burocracia, estando no 96º lugar em 141 países. Países industrialmente mais desenvolvidos ocupam lugares mais altos no ranking desse indicador. Sugere-se a realização de um estudo sobre a relação entre o desempenho da burocracia e a performance das empresas portuguesas, para entender o impacto provocado na economia do país.
FRAGMENTAÇÃO DO SCTN
Avaliação do impacto para a fragmentação do SCTN e o consequente valor económico criado
7.Existe uma proporcionalidade quase direta de 1:1 entre o número de unidades de I&D e o número de concelhos em Portugal -305 unidades de I&D para 308 concelhos. Este indicador sugere a necessidade de se estudar os impactos provocados por esta fragmentação e as potenciais barreiras na articulação entre entidades do SCTN e o tecido industrial nacional.